Nos telhados
escoam Araguaias
Na chuva do dia anterior
da quarta-feira que vem
jazem flores
que brotam do asfalto fértil
arrancadas dos jardins
de praias desconhecidas
há rumores de escavadeiras
e som de teclados
tap-tap-tap
Na paulista
o som do hino aos domingos
dos daft punks renascidos
da cerveja importada
tardia
A preço de banana
eu piso uvas
e presa a um coqueiro vertical
dialogo
com esse ser espiritual
a cidade de São Paulo
seus monges, seus fraques
seus frades
suas bailarinas, suas purpurinas
seus purpúreos pores de sol
o corte seco das motos
com seus malotes
os motores envenenados
de gasolina e álcool
os carros em sua maioria
estão de porre
os donos em sua maioria
estão de alarme
é fantástico
os telhados de São Paulo
escoando a chuva milagrosa
que não é encontrada no nordeste
sem nordeste
sul, centro, oeste, norte
leme, vela
barco aceso nos lagos artificiais
que se comunicam com represas
e os pássaros
que reproduzem o som vernáculo
tubérculo
das feiras
As feiras espaço de convergência
os pinheiros, o vinho
vou de calças dobradas
para pisar uvas
as ceasas
as mulheres distintas
respeitadas
por entrada e saída
do reino dos fantasmas
o umbigo dos cães de correntinha
perfumados
Voltando aos telhados
o trem passa e leva um pouco
do sadismo matinal
de imaginar umbigos
espirituais
e transitar sem véus
no céu
o céu de São Paulo
é um troféu
de um passeio a cavalo
um torneio
uma partida de tênis
uma pelada de futebol
o céu de São Paulo
os prédios firmamentos
as sombras das nuvens
o laboro
São Paulo está sempre
de bom humor
São Paulo não é bipolar
São Paulo não é brinquedo
para um moleque brincar
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