segunda-feira, 9 de novembro de 2015

A menina do meu pai


Lá bem longe 
de onde me fica difícil lembrar 
Veio meu pai que me pega pela mão 
E quanta mão cabe no meu pai 
É por isso que me lembro dele 
em perfeito estado 
como carta jamais postada 
Me lembro do meu pai 
e vejo a mim 
esfumaçada 
na cozinha 
massa coesa nas mãos 
Me lembro do meu pai 
e me esqueço no peso da lágrima 
com a leveza da lembrança 
Me esqueço de mim 
e do meu pai 
Os dois tão sós 
tão marcados em figura de passado 
Eu menina brinco de verdades 
nos jardins de meu pai 
Eu adulta ensaio mentiras 
no quintal de meu pai 
A menina de meu pai 
A miúda de meu pai 
O cavalo de meu pai 
Em minhas lembranças agigantado 
Saudade dele mesmo que em despedida breve 
Saudade é eterna para quem espera 
Com desespero estico a massa 
Sem dó do meu pai ou de mim 
Para o forno 
pelas nossas mãos

Nenhum comentário:

Postar um comentário