Para onde você olha é um perigo a mais para correr
teus devaneios e distração
Teus pecados conheço todos
morre-se daquilo e daquilo outro
Quantas pequenas mortes vais escolher
a vida se absorve de dentro do aquário
em forma de peixes
como o escafandro que esqueceu de ligar as bombas
Mas não morreu, sobrevive no peixe que come com as duas mãos
Ou na ostra que abre e escancara a vida como se morte fosse
desarma a morte como se fosse vida.
É um susto as cores roubadas do entardecer
se desprenderam. Cuidado!
É a sopa de vida, de morte, diária
Um trabalho eu não sei, me vejo ali tão recolhida
mas
tenho que colocar o dia em todas as manhãs
um anjo, se der a chance de escolher as palavras certas
Estou ali recolhida como o fogo que se recolhe no movimento cego das mãos no isqueiro
no botão de gás
na temperatura que o fogo deixa como um rastro de vida rupestre
Aquele homem que acendeu com seus gravetos
o primeiro fogo
também apagou um pouco do sol
Aquele ruído doce da flauta que tocava a vida
era um livro onde uma Brigitte esperava um barqueiro
agora é tarde
Tenho os mapas nas mãos
a única verdade onde habitas é que a distração
mata as coisas
bem mortas elas não podem olhar a si próprias
Então as coisas vivas olham uma criança que chora?
As coisas vivas olham uma criança que chora.
inventa um pescador, que recolha a ostra do mar
que não abra com assombro a ostra que abre em gesto de vida
nem dê um grito pela ostra que chora
a flauta toca a despedida
Cuidado é a sopa, sopra o vegetal
a sopa está viva não era o mingau
O homem risca o fósforo e o fogo se extingue
apagou-se
o mundo foi morto muitas vezes
nesse dia
Que susto, era só tocar a campainha
Não estou, responde uma mulher muito grossa
eu digo a ela
Eu também não estou
E as duas não brigam porque apagou-se o sol
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