terça-feira, 10 de novembro de 2015

Acendedor de lampião

Para onde você olha é um perigo a mais para correr
teus devaneios e distração
Teus pecados conheço todos
morre-se daquilo e daquilo outro
Quantas pequenas mortes vais escolher
a vida se absorve de dentro do aquário
em forma de peixes 
como o escafandro que esqueceu de ligar as bombas
Mas não morreu, sobrevive no peixe que come com as duas mãos
Ou na ostra que abre e escancara a vida como se morte fosse  
desarma a morte como se fosse vida. 
É um susto as cores roubadas do entardecer
se desprenderam. Cuidado! 
É a sopa de vida, de morte, diária 
Um trabalho eu não sei, me vejo ali tão recolhida
mas 
tenho que colocar o dia em todas as manhãs
um anjo, se der a chance de escolher as palavras certas
Estou ali recolhida como o fogo que se recolhe no movimento cego das mãos no isqueiro
no botão de gás 
na temperatura que o fogo deixa como um rastro de vida rupestre 
Aquele homem que acendeu com seus gravetos 
o primeiro fogo 
também apagou um pouco do sol
Aquele ruído doce da flauta que tocava a vida 
era um livro onde uma Brigitte esperava um barqueiro 
agora é tarde 
Tenho os mapas nas mãos
a única verdade onde habitas é que a distração 
mata as coisas 
bem mortas elas não podem olhar a si próprias 
Então as coisas vivas olham uma criança que chora?
As coisas vivas olham uma criança que chora.
inventa um pescador, que recolha a ostra do mar 
que não abra com assombro a ostra que abre em gesto de vida 
nem dê um grito pela ostra que chora
a flauta toca a despedida
Cuidado é a sopa, sopra o vegetal
a sopa está viva não era o mingau
O homem risca o fósforo e o fogo se extingue
apagou-se 
o mundo foi morto muitas vezes 
nesse dia 
Que susto, era só tocar a campainha 
Não estou, responde uma mulher muito grossa 
eu digo a ela 
Eu também não estou
E as duas não brigam porque apagou-se o sol

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