terça-feira, 10 de novembro de 2015

O zelador

O evento já está pronto há muito tempo
pessoas sentadas, algumas de pé 
se levantam e sentam novamente 
Algumas falam, eu escuto
Depois ficam enérgicas com os sentimentos que se criam
nuances
O evento está pronto e eu não fui
me deixei em casa de propósito 
como a boneca que fica em casa sem a criança 
Estou largada por um
deixada por outro 
por fim esquecida 
Sou eu a própria boneca no quarto decadente 
bochechas brancas presa por fios à existência. 
Uma criança abastada esqueceu ela sentada 
sem risos ou lágrimas ficou
uma criança pobre não sabia brincar com ela cujo mistério
estava em retirar a costura que prendia suas roupas 
ao corpo 
depois procurar outro vestido  
Sou a boneca esquecida pelo fantasma. 
Um filme de terror que não foi visto
o horror. 
Existem coisas que fazem escrever 
existem coisas que matam o amor 
o amor não morre 
é de vida que se vive e da escrita 
Pego o meu coração nas mãos 
o aperto para que seja esmagado
apenas uma sílaba emitida 
não vivo de dor, vivo de saudade 
Estou no mesmo lugar onde morava 
o mais plebeu dos homens 
a engrenagem da boneca
 foi pra fábrica de brinquedos.
 Cobriu seu corpo de bandeiras 
em plena guerra
seu sangue explodiu onde doía e
 retornou ao coração. 
Agora é tarde, 
retiraram todos os objetos da mulher que brincava 
nos porões do prédio
só a boneca ficou lá sentada, 
azul
sem engrenagens, sem função

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