O evento já está pronto há muito tempo
pessoas sentadas, algumas de pé
se levantam e sentam novamente
Algumas falam, eu escuto
Depois ficam enérgicas com os sentimentos que se criam
nuances
O evento está pronto e eu não fui
me deixei em casa de propósito
como a boneca que fica em casa sem a criança
Estou largada por um
deixada por outro
por fim esquecida
Sou eu a própria boneca no quarto decadente
bochechas brancas presa por fios à existência.
Uma criança abastada esqueceu ela sentada
sem risos ou lágrimas ficou
uma criança pobre não sabia brincar com ela cujo mistério
estava em retirar a costura que prendia suas roupas
ao corpo
depois procurar outro vestido
Sou a boneca esquecida pelo fantasma.
Um filme de terror que não foi visto
o horror.
Existem coisas que fazem escrever
existem coisas que matam o amor
o amor não morre
é de vida que se vive e da escrita
Pego o meu coração nas mãos
o aperto para que seja esmagado
apenas uma sílaba emitida
não vivo de dor, vivo de saudade
Estou no mesmo lugar onde morava
o mais plebeu dos homens
a engrenagem da boneca
foi pra fábrica de brinquedos.
Cobriu seu corpo de bandeiras
em plena guerra
seu sangue explodiu onde doía e
retornou ao coração.
Agora é tarde,
retiraram todos os objetos da mulher que brincava
nos porões do prédio
só a boneca ficou lá sentada,
azul
sem engrenagens, sem função
sem engrenagens, sem função
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